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Publicada em 07 de Abril de 2015 às 18:56

Interior e marcas regionais mostram força

Rodrigo Rabello/Especial/JC
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A pesquisa Marcas de Quem Decide evidencia anualmente a força regional das decisões de consumo no Rio Grande do Sul, uma tendência já reconhecida por investidores. Esse "olhar interior" se demonstra na constatação da presença de marcas locais na maioria das categorias do levantamento - em vários casos, nas primeiras colocações, tanto em lembrança quanto em preferência.
A pesquisa Marcas de Quem Decide evidencia anualmente a força regional das decisões de consumo no Rio Grande do Sul, uma tendência já reconhecida por investidores. Esse "olhar interior" se demonstra na constatação da presença de marcas locais na maioria das categorias do levantamento - em vários casos, nas primeiras colocações, tanto em lembrança quanto em preferência.
O vínculo entre ser, estar ou ter forte relação com o Rio Grande do Sul como elemento decisivo de escolha dos entrevistados pela Qualidata é destacado por seu diretor e coordenador das pesquisas anuais, Paulo Di Vicenzi. Ele ressalta a abrangência e o universo do levantamento (650 empresários e gestores de negócios dos 47 principais municípios de todas as regiões do Estado) como elementos adicionais ao outro diferencial exclusivo: a indicação de memória (lembrança de marca) e preferência (decisão de compra).
Essa opção por marcas relacionadas à forma de ser dos gaúchos aparece mesmo em categorias especiais, como Grande Marca Nacional - que, embora liderada pela Petrobras desde sua inclusão, sempre trouxe a Gerdau como uma das cinco líderes. Situação similar ocorre na também especial categoria Preservação do Meio Ambiente, em que à liderança da Natura se aproximam a Braskem (instalada há mais de uma década no Polo Petroquímico de Triunfo) e a Celulose Riograndense (Guaíba) em lembrança - e ambas e mais a Gerdau, em preferência.
Líder inconteste na categoria essencialmente estadual - Grande Marca Gaúcha -, a Gerdau circula ainda na de Ações na Bolsa. Já o Banrisul se aproxima do líder na categoria Banco, o Banco do Brasil; a Isabela aparece como campeã nos dois quesitos na categoria Bolachas e Biscoitos; a Polar está à frente em preferência na categoria Cerveja; a Ipiranga lidera a categoria Combustíveis; e, em Montadora de Carros, a General Motors, "agauchada" em sua comunicação desde que se instalou em Gravataí, ao final dos anos de 1990, permanece em primeiro lugar - dentre outros casos. Ao lado dessa renhida disputa de marcas gaúchas por espaços no pódio de quem decide, há, ainda, categorias em que todas as indicadas são marcas gaúchas: Calçado Feminino, Erva-Mate, Cozinhas, Churrascarias são alguns desses exemplos.
As constatações firmadas a cada edição da pesquisa do JC e da Qualidata alinham o Rio Grande do Sul a uma tendência que vem se firmando no Brasil, independentemente de bairrismos que possam ser apontados para uma ou outra região: a força do Interior. No Rio Grande do Sul, da população total de 10,89 milhões, pelos dados atualizados da Fundação de Economia e Estatística (FEE), 87% (cerca de 9,5 milhões) encontram-se no Interior. Em grandes cidades, como Caxias do Sul (435 mil habitantes), Pelotas (342 mil) e Santa Maria (261 mil) - distantes entre 150 e 300 quilômetros da Capital -; na Grande Porto Alegre (perto de 4 milhões), em pequenos municípios como Encantado (20 mil) e Horizontina (19 mil), com alto poder aquisitivo; e em localidades que buscam recuperar a importância anterior, como Rio Grande (180 mil), há crescente demanda - combinada nas áreas imobiliárias e de oferta de bens e serviços como as indicadas nos dois estudos.
Entre elas, há polos tradicionais de desenvolvimento regional - casos do Vale do Rio dos Sinos (1,3 milhão de habitantes em 14 municípios, integrantes também da Grande Porto Alegre) e da Serra Gaúcha (800 mil habitantes em 47 municípios), ambos em constante ampliação de suas vocações originais, como o calçado, a agroindústria e o turismo -, polos em consolidação - como o metalmecânico de Panambi (38 mil habitantes) -, polos em reconversão, como os de Sarandi (31 mil habitantes) e de Guaporé (23 mil habitantes). Incluam-se ainda lugares com cultura de planejamento a longo prazo - como Erechim (100 mil habitantes) - e regiões em fase de agregação de valor econômico - como o Litoral Norte (300 mil habitantes), via energia eólica, registrando, ainda, aumento da população, pela transferência de quem trabalhou a vida inteira em outros lugares e se transfere para a praia quando passa a ter direito a pensões e aposentadorias. O resultado, a médio e longo prazos, será a geração de mais riqueza, por sua vez fomentando o desenvolvimento regional mais equilibrado e mais bem distribuído geograficamente.
Cidades em desenvolvimento atraem pessoas em busca de oportunidade. Por sua vez, essas pessoas têm expectativas que precisam ser atendidas, entre elas a educação dos filhos, os serviços de saúde, os equipamentos de lazer e os estabelecimentos de consumo imediato. Com uma única região metropolitana de fato, liderada pela capital do Estado, o Rio Grande do Sul tem lideranças como o vice-prefeito de Caxias do Sul, Antonio Feldmann, reivindicando a ampliação dessa condição, sob o argumento de que, agrupadas regionalmente, as comunidades trocam a competição pela cooperação. "Nesse conceito, as fronteiras geográficas são substituídas por soluções compartilhadas", argumenta.

O Brasil de dentro também pede atenção

Rodrigo Rabello/Especial/JC
Se, no caso específico do Rio Grande do Sul, cada nova edição da pesquisa Marcas de Quem Decide fortalece e consolida a forte presença de marcas locais, em termos nacionais levantamentos recentes ressaltam a força do Interior como espaço apropriado para negócios já existentes e para novos empreendimentos. A combinação desses fatores cria um ambiente particular, tornado mercado experimental para reposicionamentos de produtos e para novos lançamentos, pelo elevado nível de exigência de seus públicos consumidores.
O Interior do Brasil está a cinco anos de responder pela metade do crescimento do consumo nacional. Quando isso ocorrer, esse será um mercado avaliado em cerca de R$ 2 trilhões - calculados na conversão atual do dólar, já superior aos R$ 3,00. Com hábitos próprios, em que se incluem a proximidade às marcas locais e a grande convivência familiar e doméstica, esse público mostra força e está a merecer mais atenção e estudos. A inserção de 11 milhões de novas pessoas às classes A e B entre 2010 e 2020 supera em três vezes a população do Uruguai e se equipara a de Portugal.
Os dados citados acima são do Boston Consulting Group, divulgados no segundo semestre de 2014 e tendo 2010 e 2020 como referências extremas. O levantamento, intitulado Redefinindo a Classe Média Emergente no Brasil, envolveu 3,6 mil famílias em todas as regiões do País, com renda entre média e superior. Já o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Data Popular demonstram - em levantamento conjunto - que, agrupados, os municípios do Interior do Brasil comporiam a 13ª maior nação do mundo; e que chega a R$ 900 milhões o consumo nas pequenas e médias cidades - excluídas as capitais e as regiões metropolitanas.
Não há, no Brasil, nada comparável ao Interior de São Paulo. Assim como, no conjunto dos estados, os paulistas detêm a supremacia nacional em indicadores como população e poderio econômico, também quando se examinam as áreas além das capitais o seu domínio é evidente. São Paulo, cuja capital possui população superior a de todo o Rio Grande do Sul, abriga cidades que, reunidas ou não em regiões metropolitanas - caso de Campinas, com 20 municípios e população acima de 3 milhões - se aproximam e ultrapassam 1 milhão de habitantes, muitas com predomínio de faixas sociais de alto poder aquisitivo e grandes expectativas de consumo. A massa salarial de áreas resolvidas economicamente, como Jundiaí, desenvolve a economia regional e torna cada vez mais dispensável recorrer à Capital em busca de atendimento de qualidade, mesmo que a distância entre ambas seja de menos de 60 quilômetros.
A pesquisa do BCG indica que metade dos 11 milhões de pessoas que serão incorporados às classes A e B até 2020 estará no Interior do Brasil. Para atender a esse público, produtores de bens e serviço precisarão levar em consideração peculiaridades próprias. Entre elas, encontra-se a do convívio familiar mais intenso, proporcionado pela presença de todos em casa em horários de almoço e jantar, condição impensável para quem trabalha fora e vive na maioria das capitais estaduais brasileiras. Quem passa mais tempo na residência e nela faz suas refeições, usa mais eletrodomésticos e adquire mais alimentos em supermercados. Também assiste mais à televisão aberta e/ou fechada e está em constante busca de conforto doméstico, via móveis e equipamentos.
Antes exclusivas das cidades que cercam as capitais, as regiões metropolitanas, atualmente, se espalham pelo Interior do Brasil. O IBGE aponta a existência de 68 delas em território brasileiro - incluída a da Serra Gaúcha em torno de Caxias do Sul. Na prática, a condição, no Sul, está muito mais consolidada em Santa Catarina (Carbonífera, Chapecó, Contestado, Florianópolis, Extremo Oeste, Foz do Itajaí, Lages, Norte/Nordeste, Tubarão e Vale do Itajaí) e no Paraná (Umuarama, Toledo, Maringá, Curitiba, Cascavel, Campo Mourão e Apucarana), equivalendo a um desenvolvimento mais bem distribuído regionalmente, por menos dependente a uma única cidade ou região. São Paulo, por exemplo, tem, além da Capital e de Campinas, as Regiões Metropolitanas da Baixada Santista, de Sorocaba e do Vale do Paraíba e Litoral Norte.

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